quarta-feira, 28 de março de 2012

Qualquer besteira pode se tornar viral?



Para a noooo oooo oooossa alegriaaaaa!
O maior hit da internet de todos os tempos da última semana chama-se “Para nossa alegria” e consiste em uma cantoria desafinada da música “Galhos secos” por Jefferson, Mara e Suellen. Mas você já deve saber disso se possui acesso à internet (e supondo que você esteja lendo este texto na internet, é muito provável que você possua).

Este artigo não é sobre o vídeo da família cantora e sim sobre a pergunta que tenho ouvido de diversos amigos: Hoje em dia qualquer besteira viraliza e qualquer pessoa que ligue uma câmera e fale, faça ou cante qualquer bobagem é elevada ao status de web-celebridade?

Eu diria que não, não basta ser qualquer bobeira. Quando ainda estava na faculdade e os vídeos chamados “virais”estavam começando a ganhar destaque e a despertar interesse nas empresas, lembro de termos discutidos quais características faziam um vídeo ter potencial viral.

Na época, esses vídeos eram feitos por amadores. Era a época em que Youtube ainda era sinônimo de vídeos de péssima resolução enviados quase exclusivamente por pessoas comuns. O que alguns historiadores chamam de “ A era do Youtube moleque”. 

O número de visualizações de alguns vídeos começou a subir absurdamente e, claro, algumas empresas, de olho na novidade, queriam entrar na festa. Afinal, ali estava um contador de views, era possível mensurar quantas pessoas viram seu anúncio e ainda o espalharam por ai, coisa impossível de se fazer na TV.

Lembro que os primeiros vídeos feitos por empresas com a intenção de gerar interesse do público em compartilhá-los tinham cara de amadores, propositalmente. Eram produzidos assim para se infiltrar entre os vídeos caseiros, pois pensava-se que ninguém iria querer compartilhar propaganda.

Com mais e mais empresas se arriscando nesse mundo novo, a cada vídeo mais  engraçadinho em que aparecia algum produto, as teorias da conspiração começavam: “isso aí deve ser viral de tal empresa”. Ao poucos, alguns vídeos traziam a identificação da empresa no final.  Até assumirem totalmente a autoria, investir em canais do Youtube pagos (brandchannels) e produzirem com qualidade profissional. 

Não demorou até toda empresa querer ter um vídeo de sucesso bombando pela internet, e demorou menos ainda até os oportunistas de plantão incluírem “fazemos viral” na lista de serviços prestados. Era baratinho, praticamente de graça, não exigia produção sofisticada nem câmeras profissionais, diziam, e ainda seria assistido por milhares de pessoas. (Os argumentos não mudaram muito em relação aos primórdios do marketing nas mídias sociais, lembra?)

Bom, as empresas pediam um viral, a agência  fazia um vídeo e... bem, nada garantia que ele seria um sucesso. E logo essas agências perderam o prestígio, pois não havia como garantir a entrega do que prometiam. Nenhum vídeo é viral por si só, ele somente tem potencial viral. Ele só se transforma em um viral se for compartilhado por muitas pessoas e só quem decide de vale a pena compartilhar ou não são as pessoas.

O que faz um vídeo ter potencial viral e alcançar a glória de ser compartilhado à exaustão e alcançar visualizações estratosféricas, então?  Na época da faculdade, tínhamos listados algumas características que eram comum na maioria dos vídeos que tinham sido espalhados por um enorme número de pessoas. A maior parte deles era enquadrada nas seguintes categorias:

Engraçado: a característica mais óbvia. Se um vídeo é engraçado, ele tem grande chance de ser compartilhado, assim como uma piada engraçada é repetida de boca a boca de amigo para amigo.  As milhares de paródias estão ai para provar.

Bizarro: essa característica nem tão óbvia só se torna clara após assistir aos vídeos a procura de fatores em comum. Uma certa receita de sanduíche que o diga. 

Inusitado: aquele vídeo que pega as pessoas de surpresas ou que mostra situações pouco comuns. Vídeos de matérias jornalísticas, por exemplo, tem potencial viral quase nulo, ainda mais se forem reportagens muito sérias. Agora se um repórter é atropelado por uma vaca enfurecida no meio de uma matéria ao vivo o potencial sobre às alturas.

Fofinho: Nesta categoria estão incluídos aqueles vídeos cuja reação inicial é um “oooowwwn”.  São basicamente bebês fofos fazendo suas fofurices, gargalhando, brincando serelepes, tentando conversar, etc ou cachorros e gatos fazendo suas brincadeiras, pândegas e estripulias.

Celebridades: o objetivo social de celebridades é chamar atenção, seja no meio que for. E elas chamam. Videoclipes, celebridades em momentos de intimidade ou embriagadas falando merda. Não importa, celebridades chamam atenção!

Música/pessoas cantando: pessoas cantando, sejam celebridades ou não, seja muito bem ou muito mal.

Insinuação de sexo: seja verbal, uma dança provocante, uma cena caliente ou qualquer insinuação de cunho sexual.

Nostálgico: resgata grandes lembranças de infância: brinquedos, músicas, filmes, séries, etc.

Conter alguma dessas características já garante algum potencial viral, mas se o vídeo conseguir reunir várias, o potencial aumenta ainda mais. Pense em, por exemplo:

insinuação sexual + celebridades = Paris Hilton, Daniela Cicareli, edredom do Big Brother (tá, vale subcelebridade também).


Música + inusitado = Susan Boyle, algumas intervenções do Improv Everywhere

Engraçado + inusitado = garoto chapado após o dentista, Pôneis malditos, várias gafes de repórteres 

Celebridades + música + bizarro = Lady Gaga


Nostálgico + música + engraçado = Quico dançando funk e milhares de mashups do Chaves.


Não pense, porém, que fazer um clipe musical bizarro e engraçado estrelado por uma celebridade seminua alcoolizada junto com cachorros, gatos e bebês caracterizados como Os Trapalhões vai  ser sucesso instantâneo. Tal qual o Big Brother, quem vai decidir é o público, e se não cair no gosto das pessoas, seu viralzinho com fritas foi por água abaixo.

Nessas horas, também pesa bastante a força dos influenciadores, formadores de opinião e até celebridades. Se algum desses atores sociais disser que o vídeo é bom e o compartilhar com sua ampla rede de contatos e influenciados, eles também acharão o vídeo bom e passarão adiante, num fenômeno que a sociologia luta para desvendar.

 Vai dizer que você nunca achou que  “Até Luiza que está no Canadá” e “Para nossa alegria” coisas idiotas e por um momento se perguntou: “Como essas pessoas fazem sucesso com essas porcarias e eu não?”  Ou “Vou falar qualquer besteira no Youtube e virar web-celebridade.”

Bom, o que não deve faltar é vídeo de gente cantando mal, fazendo coisas engraçadas ou bizarras, dancinhas sexy e gatinhos e cachorrinhos fazendo todo tipo de coisa, mas se algum blog, site ou pessoa influente vai ver, gostar e compartilhar é outra história. Essas pessoas parecem ser necessárias para dar um empurrão inicial para, a partir daí, o conteúdo ser disseminado.  Já vi um vídeo sair de 2 mil views para 50 mil após um post do Luciano Huck, para citar um exemplo. 

Portanto, meu caro, se você também quer virar celebridade da interwebs, além de fazem um vídeo que se enquadre em algumas das categorias descritas, certifique-se também de ter uma rede de contatos influente e que seu vídeo seja realmente muito bom... ou muito ruim.



Olá! Você teve paciência de ler até aqui? Jura? Para compensar o tempo perdido em sua vida, assista: 

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